É um lugar dos sonhos, um paraíso no norte gelado do Canadá. Alguns disseram que o vale estaria cheio de ouro. Pelo menos uma dúzia de pessoas entrou e nunca mais saiu. Os índios dizem que este lugar é o lar dos demônios. Quando se explora os lugares mais remotos do Nosso Mundo é preciso coragem, mas no vale do rio Nahanni a coragem pode não ser suficiente.
Os índios têm ocupado as terras ao redor do rio Nahanni a milhares de anos e histórias antigas falam da tribo Naha que habitava as montanhas e era forte e cruel, mas que de alguma forma desapareceu sem deixar vestígios. Nos anos de 1700 ocorreram os primeiros contatos dos nativos com europeus e por volta um século depois quase todas as famílias indígenas já haviam abandonado seu estilo de vida nômade.
As lendas recentes do Nahanni começaram no final do século XIX e início do século XX quando muitos exploradores cruzavam o noroeste do Canadá procurando por ouro. Conta-se que por volta de 1908 foram encontrados os corpos decapitados de dois garimpeiros, Frank e Willie McLeod. Nos anos que se seguiram várias outras mortes foram sendo relatadas.
Era 1910 quando o prospector Martin Jorgensen também foi encontrado morto na região. Os ossos de outro garimpeiro, Yukon Fisher, foram descobertos perto de um riacho, em 1928. Logo depois três caçadores desapareceram no vale e em 1945 foi encontrado o corpo do mineiro Ernest Savard, ele estava dentro de seu saco de dormir e a cabeça havia desaparecido. Pouco antes de 1947 um garimpeiro chamado Frank Henderson tinha marcado um encontro com seu amigo, John Patterson, mas John nunca mais foi visto.
Muitas explicações foram propostas para as várias mortes e desaparecimentos. As decapitações de Frank e Willie foram atribuídas a um ataque de Sasquatch, ou seja, um Pé Grande. Outros sugerem que tudo talvez fosse culpa do waheela, um lobo gigantesco, muito maior que um urso e que é mencionado nas lendas dos indígenas desde tempos imemoriais. Os nativos acreditam que espíritos do mal e demônios habitam a região. Hoje a explicação mais aceita é de que o frio e animais selvagens como ursos e lobos sejam os culpados pelas mortes.
Nos anos de 1970 o vale e as regiões próximas foram transformados em um parque nacional e em 1978 ele se tornou Patrimônio Mundial pela UNESCO. Atualmente cerca de 900 pessoas visitam o Parque anualmente procurando por aventura e belíssimas paisagens. Como se percebe pelas imagens opções não faltam. Com cachoeiras, florestas, campos, rochedos, montanhas, fontes termais, cavernas e geleiras o parque é perfeito para o ecoturismo, mas não se pode esquecer de um detalhe, ele é frio, muito frio.
O Parque Nacional de Nahanni hoje é conhecido de vários praticantes de esportes radicais e possui algumas das corredeiras mais famosas do mundo entre os amantes do rafting e da canoagem. O primeiro explorador a descer o rio com botes infláveis foi Jean Poirel, que durante suas quatro expedições descobriu mais de 200 cavernas, uma das quais possuía ossadas de 116 carneiros que haviam morrido de fome centenas de anos antes.
A cachoeira mais procurada chama-se Virginia Falls, com uma queda total de 96 metros. No centro da cachoeira está uma rocha chamada de Mason’s Rock em homenagem a Bill Mason, um dos mais famosos canoístas brasileiros. O parque conta ainda com várias outras cachoeiras, paredões para escalada, trilhas e cânions espetaculares.
Apesar das histórias macabras e de ser acessível apenas de barco ou pelo ar (helicópteros e hidroaviões) o lugar é incrível e merece uma visita. Como todos os outros que mencionei aqui no blog, ele já está em minha lista de locais que eu gostaria de visitar.
Ainda hoje os descendentes dos indígenas têm certo receio de entrar no vale, em seu idioma original a palavra Nahanni pode ser traduzida como espírito e eles avisam que não deram esse nome a toa. E então, alguém arrisca uma visita? O que acharam de mais essa dica de viagem?
Fernando Williams